O Destino de uma Nação

Alexandre Almeida
3 min readJan 10, 2018

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Gary Oldman excepcional como Winston Churchill e uma qualidade técnica acima da média são os pontos altos do novo filme de Joe Wright

Publicado originalmente em Matéria Acumulada

Desde a sua primeira imagem divulgada, O Destino de uma Nação, novo filme do diretor Joe Wright, chamava a atenção pela figura de Gary Oldman completamente modificado através de maquiagem na persona de Winston Churchill. O ator ganhou uma bela barriga, uma papada generosa e a calvície, ambas características marcantes de uma das figuras mais importantes da história. A maquiagem é um dos artifícios mais interessantes do cinema. Ela transformou John Hurt no “Homem Elefante”, envelheceu o galã Brad Pitt em “O Curioso Caso de Benjamin Button”, criou a maravilhosa Sra. Doubtfire, em Uma Babá Quase Perfeita, fez Doug Jones ser quem ele quisesse em todos os filmes de Guillermo del Toro, deu as bochechas de Don Vito Corleone, assim como em diversos outros exemplos. Mas todos tinham a seu favor o talento de grandes atores que conseguiram ultrapassar as camadas de látex e outros produtos para dar vida à suas criações.

Além de toda essa transformação, que já representava suficiente, Gary Oldman precisava dar ainda suas características pessoais para um personagem interpretado diversas vezes no cinema e na TV. Só para lembrar, nos últimos anos, Michael Gambon e Brendan Gleeson fizeram o papel em filmes para a televisão, e Timothy Spall fez a sua versão em “O Discurso do Rei”. Gary Oldman transforma a imagem carrancuda de Churchill em um homem que, apesar de já ter perdido muitas batalhas em nome do seu país, não deixa de acreditar em seus princípios, mesmo quando até o Rei que o nomeou desconfie. É possível ver a atuação de Oldman desde a forma de falar (e é complicado entender algumas coisas que o personagem balbucia), aos trejeitos. Mas o ponto forte é o olhar de Winston, e não é a toa que o diretor, por várias vezes, coloca a câmera próxima de Oldman para que seus olhos, um dos poucos pedaços do corpo sem maquiagem, transmitam por si só as emoções do primeiro ministro.

A ambientação do filme mistura o cinza frígido de Londres com interiores de cores mais quentes, seja da casa de Churchill ou até mesmo do bunker onde as decisões de guerra são tomadas. Há cenas incríveis como a que o protagonista está em um elevador, que sobe através de toda a tela escura e o único ponto de luz é o interior da caixa de madeira. Ou todas as cenas dentro de Westminster, com a iluminação sempre apontando para o orador no púlpito. Joe Wright é mestre em belas cenas. Seja nas adaptações de Jane Austen — “Orgulho e Preconceito”, “Razão e Sensibilidade” -, quanto no excelente “Hanna” e nos subestimados “Peter Pan” e “Anna Kerenina”. Além disso, o diretor consegue criar tensão em algumas situações já batidas para o público, como o resgate dos soldados na praia de Dunquerque, visto também esse ano no ótimo filme de Christopher Nolan.

Já algumas coisas não funcionam tão bem. As cenas que mostram a guerra em si são como uma transição, mas soam desnecessárias. O objetivo do filme não é mostrar os soldados no front. Deixar a ideia no subjetivo e no temor de Churchill de perder mais homens é um dos pontos altos do filme e essas pequenas tomadas, quase sempre vistas de cima, com um salto da câmera, não acrescentam em nada. A personagem de Lilly James é o guia da história, cumprindo o papel de ser o motivo para explicações, mas que quebra o ritmo em várias cenas. Além disso, o Rei George de Ben Mendelsohn soa caricato e sofre com a imagem que algumas pessoas ainda têm da interpretação de Colin Firth para o mesmo personagem em “O Discurso do Rei”.

“O Destino de uma Nação” é o típico filme de “história”, que podemos ter certeza que tem muito de ficção. Mas não deixa de ser um filme empolgante em que torcemos por Oldman/Churchill em todos os momentos. É quase impossível não ficar com um sorriso no rosto durante a cena do metrô ou de não se empolgar com o discurso final do primeiro ministro. E isso tudo é mérito de Joe Wright e, principalmente, de Gary Oldman, seja com os 30 quilos de maquiagem ou num simples olhar.

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Alexandre Almeida

Cinema, TV e música. Cinéfilo na veia, música em todos os tempos livres e TV naquela hora do sofá.